30 março 2009

Leia o primeiro capítulo do novo livro de Chico Buarque - Leite Derramado


Preço de capa: R$ 36,00.

Encomendas pelo email ratodelivraria@uol.com.br ou pelo fone 11 3569-7882

Leia aqui o primeiro capítulo

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Quando eu sair daqui, vamos nos casar na fazenda da minha feliz infância, lá na raiz da serra. Você vai usar o vestido e o véu da minha mãe, e não falo assim por estar sentimental, não é por causa da morfina. Você vai dispor dos rendados, dos cristais, da baixela, das joias e do nome da minha família. Vai dar ordens aos criados, vai montar no cavalo da minha antiga mulher. E se na fazenda ainda não houver luz elétrica, providenciarei um gerador para você ver televisão. Vai ter também ar condicionado em todos os aposentos da sede, porque na baixada hoje em dia faz muito calor. Não sei se foi sempre assim, se meus antepassados suavam debaixo de tanta roupa. Minha mulher, sim, suava bastante, mas ela já era de uma nova geração e não tinha a austeridade da minha mãe. Minha mulher gostava de sol, voltava sempre afogueada das tardes no areal de Copacabana. Mas nosso chalé em Copacabana já veio abaixo, e de qualquer forma eu não moraria com você na casa de outro casamento, moraremos na fazenda da raiz da serra. Vamos nos casar na capela que foi consagrada pelo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro em mil oitocentos e lá vai fumaça. Na fazenda você tratará de mim e de mais ninguém, de maneira que ficarei completamente bom. E plantaremos árvores, e escreveremos livros, e se Deus quiser ainda criaremos filhos nas terras de meu avô. Mas se você não gostar da raiz da serra por causa das pererecas e dos insetos, ou da lonjura ou de outra coisa, poderíamos morar em Botafogo, no casarão construído por meu pai. Ali há quartos enormes, banheiros de mármore com bidês, vários salões com espelhos venezianos, estátuas, pé­direito monumental e telhas de ardósia importadas da França. Há palmeiras, abacateiros e amendoeiras no jardim, que virou estacionamento depois que a embaixada da Dinamarca mudou para Brasília. Os dinamarqueses me compraram o casarão a preço de banana, por causa das trapalhadas do meu genro. Mas se amanhã eu vender a fazenda, que tem duzentos alqueires de lavoura e pastos, cortados por um ribeirão de água potável, talvez possa reaver o casarão de Botafogo e restaurar os móveis de mogno, mandar afinar o piano Pleyel da minha mãe. Terei bricolagens para me ocupar anos a fio, e caso você deseje prosseguir na profissão, irá para o trabalho a pé, visto que o bairro é farto em hospitais e consultórios. Aliás, bem em cima do nosso próprio terreno levantaram um centro médico de dezoito andares, e com isso acabo de me lembrar que o casarão não existe mais. E mesmo a fazenda na raiz da serra, acho que desapropriaram em 1947 para passar a rodovia. Estou pensando alto para que você me escute. E falo devagar, como quem escreve, para que você me transcreva sem precisar ser taquígrafa, você está aí? Acabou a novela, o jornal, o filme, não sei por que deixam a televisão ligada, fora do ar. Deve ser para que esse chuvisco me encubra a voz, e eu não moleste os outros pacientes com meu palavrório. Mas aqui só há homens adultos, quase todos meio surdos, se houvesse senhoras de idade no recinto eu seria mais discreto. Por exemplo, jamais falaria das putinhas que se acocoravam aos faniquitos, quando meu pai arremessava moedas de cinco francos na sua suíte do Ritz. Meu pai ali muito compenetrado, e as cocotes nuinhas em postura de sapo, empenhadas em pinçar as moedas no tapete, sem se valer dos dedos. A campeã ele mandava descer comigo ao meu quarto, e de volta ao Brasil confirmava à minha mãe que eu vinha me aperfeiçoando no idioma. Lá em casa como em todas as boas casas, na presença de empregados os assuntos de família se tratavam em francês, se bem que, para mamãe, até me pedir o saleiro era assunto de família. E além do mais ela falava por metáforas, porque naquele tempo qualquer enfermeirinha tinha rudimentos de francês. Mas hoje a moça não está para conversas, voltou amuada, vai me aplicar a injeção. O sonífero não tem mais efeito imediato, e já sei que o caminho do sono é como um corredor cheio de pensa­mentos. Ouço ruídos de gente, de vísceras, um sujeito entubado emite sons rascantes, talvez queira me dizer alguma coisa. O médico plantonista vai entrar apressado, tomar meu pulso, talvez me diga alguma coisa.
Um padre chegará para a visita aos enfermos, falará baixinho palavras em latim, mas não deve ser comigo. Sirene na rua, telefone, passos, há sempre uma expectativa que me impede de cair no sono. É a mão que me sustém pelos raros cabelos. Até eu topar na porta de um pensamento oco, que me tragará para as profundezas, onde costumo sonhar em preto­e­branco.

06 março 2009

Pela primeira vez numa livraria: Festival Rato de Teatro


28 de março, sábado, 5 da tarde.

Esquetes de autores consagrados, como Shakespeare, Molière e Aristófanes, e novos autores que vão mostrar seu talento ao público paulistano.


Evento gratuito!

Confira abaixo os textos que serão apresentados e os grupos que vão participar do Festival.

ItinerARTE no Festival Rato de Teatro

O escritor estreante Leco Peres, que desde 2007 investe na dramaturgia, apresentará alguns dos seus esquetes cômicos, integrantes do Projeto ItinerARTE. O projeto conta com esquetes rápidos e de fácil produção, quase itinerantes - aderem a um formato similar ao ‘poema-pílula’. A temática gira em torno de críticas sociais e especulações existenciais, tudo regado a humor e situações inusitadas.

Integrantes: Alfredo Rollo, ator, diretor e dublador profissional desde 1990, e dirigente do grupo teatral Virtude; Patrícia Nacarato, advogada, cantora e atriz, integrante também do grupo teatral Virtude há 5 anos, e Sidnei Santos, ator profissional há 4 anos.

Esquetes a serem apresentados no Festival Rato de Teatro:
"Moça do Tempo" e "Poemofobia", de Leco Peres,
“Comédia dos erros”, de Shakespeare.

28 de Março, sábado, 5 da tarde.

www.lecoperes.com.br
http://lecospirose.blogspot.com

Centro de Dramaturgia Contemporânea no Festival Rato de Teatro


É um grupo de dramaturgos que estuda e cria dramaturgia há três anos. Ao longo desse tempo realizou duas montagens - “Cenas Contemporâneas I e II” -, além de diversas leituras dramáticas.

Integrantes: Anderson Rodrigues, Betina Leme, Dênio Maués, Dílson Rufino, Dóris Fleury, Drika Nery, Luis Eduardo, Luis Indriunas, Neuza Pommer e Silvia Faro.

Coordenação geral: Paula Chagas Autran

Esquetes a serem apresentados no Festival Rato de Teatro:

“Sobre a vida, a morte e alguns trocados”
texto e direção: Luis Eduardo
com Dílson Rufino e Silvia Faro

“A greve do sexo” de Aristófanes
adaptação e direção: Drika Nery
com Silvia Faro e Neuza Pommer

28 de Março, sábado, 5 da tarde.

www.centrodedramaturgiacontemporanea.blogspot.com

Grupo Parampará de Contação de Histórias no Festival Rato de Teatro




Parampará em sânscrito: tradição oral que passa de coração para coração.

“O grupo nasceu de uma parceria iniciada no ano de 2005, quando a vontade de pesquisar nossas memórias apareceu.

Lembranças da infância, cantigas de roda, episódios engraçados de nossa meninice: colocamos tudo na roda e fizemos girar! A partir daí começamos a escrever nossas próprias estórias, levando em conta vivências que moravam em nós há muito tempo e que queriam ser novamente habitadas.

Assim como são nossas as estórias (e muitas das canções que executamos nas contações), fizemos nós mesmas os figurinos e os objetos que usamos”.

Integrantes: Carla Kinzo, Daniela Caielli, Denise Cruz e Marcela Puppio, contadoras de histórias, fiandeiras da memória.

Esquetes a serem apresentados no Festival Rato de Teatro:
“O doente imaginário”, de Molière.
"Meu nome é Ligia Helena", de Ligia Helena de Almeida
"Poemas", de Marcela Puppio.

28 de Março, sábado, 5 da tarde.

http://www.grupoparampara.blogspot.com/

03 março 2009

Bicentenário de Charles Darwin









Em um clássico relançado pela Companhia das Letras, na versão de bolso, para celebrar o bicentenário de seu nascimento, Charles Darwin mostra que os animais, assim como nós, também sentem e manifestam emoções, e defende que algumas de nossas expressões são resquícios herdados de antepassados primitivos, comuns ao homem e a outros animais. Com introdução do prêmio Nobel Konrad Lorenz.

"O livro mais acessível e humano de Darwin, repleto de belíssimas descrições, teorias provocativas e ilustrações notáveis." - Oliver Sacks, autor de Tempo de despertar e Um antropólogo em Marte.

Este livro acaba de ser lançado pela Cia das Letras e seu preço de capa é de R$ 24,00

Encomendas pelo fone 11 3569-7882 ou pelo email ratodelivraria@uol.com.br

Veja resenha completa:
Em 1859, ao publicar A origem das espécies, Charles Darwin trazia ao mundo sua arrojada teoria da evolução pela seleção natural. Preocupado com a aceitação que teriam suas teses anticriacionistas, publicou nos anos seguintes livros fundamentais para sustentar a teoria que lançara, entre eles, A expressão das emoções no homem e nos animais.
Nesta obra, lançada originalmente em 1872, Darwin demonstra que os animais também sentem raiva, medo, ciúme, manifestados por meio das expressões - que ele examina e explica do ponto de vista de sua funcionalidade no processo de adaptação do indivíduo ao meio: a cobra cascavel, por exemplo, faz do som de seu guizo um sinal para espantar predadores. Mas é ao falar das complexas emoções e expressões do homem que Darwin vai mais longe. Ele defende que algumas de nossas expressões são resquícios herdados de antepassados primitivos, comuns ao homem e a outros animais. Mais: Darwin sustenta que muitas de nossas expressões são inatas e não aprendidas, já que se repetem em homens das mais variadas culturas.
É nesse ponto que o livro ultrapassa em muito o projeto inicial de sustentar a teoria da evolução e inaugura o estudo dos aspectos biológicos do comportamento, uma das vertentes das neurociências. O tema não poderia ser mais atual, e o rigor empiricista de Darwin, assim como sua aguçada percepção emocional, servem de inspiração a todos os que se interessam por compreender as emoções.