17 janeiro 2008

Zé Modesto lança “Xiló”



Uma reverência à madeira como matéria sonora e poética

por Cristiane Fernandes

O compositor Zé Modesto lança seu segundo cd, Xiló, percorrendo novas paisagens sonoras, além das já apresentadas em seu primeiro álbum, Esteio (2004). Elementos do primeiro trabalho se mantêm presentes em Xiló, como a preferência pelos ritmos brasileiros de origem popular e a poética religiosa permeando certas canções. A novidade fica por conta do conceito estético mais enxuto e cru. Xiló evidencia os instrumentos acústicos, explorando as veias sonoras da madeira em sua amplitude e singularidade.
O termo Xiló, de origem greco-latina, significa tanto madeira, como matéria. Zé Modesto funde ambas as idéias ao reverenciar a madeira como matéria sonora e poética, buscando a essência do som e das palavras em movimentos que vão do recolhimento silencioso diante dos mistérios da vida à expansão intensa do grito tribal.
Ao folhear o encarte, encontra-se a reverberação do conceito Xiló nas fotografias de Ed Zvingila. A obra fotografada é do artista argentino Carlos Bruna, que gentilmente cedeu ao compositor seus calados – verdadeiros bordados em madeira.
O repertório de Xiló alterna momentos distintos. O primeiro deles é uma clara homenagem à cultura popular brasileira por meio dos ritmos da congada, folia de reis, maracatu e ijexá, representados pelas quatro primeiras canções do álbum: Esteira, Meio Mistério, Antífona e O que há. O segundo, marcado por introspecção e recolhimento, é um convite ao silêncio e à escuta reflexiva, com as canções Leitura, Desvãos, Sobrevida e a instrumental, Para o Ernesto. Em seguida, um momento festeiro, com os ritmos típicos das celebrações populares, como o boi do Maranhão, em Bedô, e o samba Pirapora, um tributo à Festa de Bom Jesus de Pirapora, no interior paulista. Para encerrar, uma convocação esperançosa à coletividade, representada no galope Simbora e na canção Simbora.
Zé Modesto divide a direção musical de Xiló com Jardel Caetano e a pesquisa sonora é realizada em parceria com os músicos que já o acompanharam em Esteio: o próprio Jardel Caetano no violão, assinando junto com o compositor os arranjos; Priscila Brigante, na percussão e bateria e Itamar Pereira, no contrabaixo. Os músicos convidados são: Adriana Holtz, no violoncelo; Juca Leite, clarinete; Maicira Trevisan, flautas e pífanos e Zé Gomes, no violino. Nas interpretações, reaparecem algumas vozes de Esteio, como as de Ana Leite, Ceumar, Dalci, Marcelo Pretto, Renato Braz, Rubi e o próprio Zé Modesto, além das participações especiais do cantor Mateus Sartori, do grupo Nhambuzim e do cearense Zé Vicente.


O compositor

Zé Modesto, 38 anos, paulistano, formado em História pela Universidade de São Paulo, atua há mais de dez anos na Educação, como professor e orientador pedagógico. Entende-se melhor na vida quando imerso em música e poesia.
Amante, apreciador e estudioso da canção brasileira, teve os choros antigos, os sambas e as serestas desde muito cedo tomando conta de seus ouvidos, soando diariamente ora do clarinete de seu pai, ora do violão tenor do velho Duca, avô querido, fazedor de quadrinhas, a quem dedicou o CD de estréia, Esteio, 2004.
É simplicidade o que Zé Modesto persegue na arte. Dessa busca vem o gosto pelos cantos de trabalho, benditos, ladainhas, capoeiras e folias. Daí o encontro com as Adélias, Guimarães e Bitucas, esteios do universo mineiro, principal manancial de sua criação, que mistura com os sambas das antigas e as tonalidades urbanas indissociáveis em sua alma paulistana.

O CD Xiló já está disponível para venda na Rato de Livraria.
R$ 25,00.

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